segunda-feira, 5 de julho de 2010

Revisão: Primeiro ano


1º ano –
Questões extraídas do vestibular da UERJ

Texto

(...) publicou-se há dias o recenseamento do Império, do qual se colige que 70% da nossa população não sabem ler.

Gosto dos algarismos, porque não são de meias medidas nem de metáforas. Eles dizem as coisas pelo seu nome, às vezes um nome feio, mas não havendo outro, não escolhem.São sinceros, francos, ingênuos. As letras fizeram-se para frases; o algarismo não tem frases, nem retórica.

Assim, por exemplo, um homem, o leitor ou eu, querendo falar do nosso país, dirá:

– Quando uma Constituição livre pôs nas mãos de um povo o seu destino, força é que este povo caminhe para o futuro com as bandeiras do progresso desfraldadas. A soberania nacional reside nas Câmaras; as Câmaras são a representação nacional. A opinião pública deste país é o magistrado último, o supremo tribunal dos homens e das coisas. Peço à nação que decida entre mim e o Sr. Fidélis Teles de Meireles Queles; ela possui nas mãos o direito a todos superior a todos os direitos.

A isto responderá o algarismo com a maior simplicidade:

– A nação não sabe ler. só 30% dos indivíduos residentes neste país que podem ler; desses uns 9% não leem letra de mão. 70% jazem em profunda ignorância. Não saber ler é ignorar o Sr. Meireles Queles; é não saber o que ele vale, o que ele pensa, o que ele quer;nem se realmente pode querer ou pensar. 70% dos cidadãos votam do mesmo modo que respiram:sem saber porque nem o quê. Votam como vão à festa da Penha, – por divertimento. A Constituição é para eles uma coisa inteiramente desconhecida. Estão prontos para tudo: uma revolução ou um golpe de Estado.

Replico eu:

– Mas, Sr. Algarismo, creio que as instituições...

– As instituições existem, mas por e para 30% dos cidadãos. Proponho uma reforma no estilo político. Não se deve dizer: “consultar a nação, representantes da nação, os poderes da nação”; mas – “consultar os 30%, representantes dos 30%, poderes dos 30%”. A opinião pública é uma metáfora sem base; há só a opinião dos 30%. Um deputado que disser na Câmara:

Sr. Presidente, falo deste modo porque os 30% nos ouvem...” dirá uma coisa extremamente sensata.

E eu não sei que se possa dizer ao algarismo, se ele falar desse modo, porque nós não

temos base segura para os nossos discursos, e ele tem o recenseamento.

(ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, vol. III, 1969.)

Questão 1

A apresentação do “Sr. Algarismo” como personagem enfatiza a:

(A) auto-suficiência opinativa do eu-lírico

(B) justeza da representação política no Brasil

(C) comprovação numérica de suas afirmativas

(D) inexistência de raciocínios contrários ao do narrador



Questão 2

Observado o valor semântico da palavra “força” no 4 o parágrafo, é correto afirmar que

ela tem o mesmo sentido que:

(A) vigor

(B) motivo

(C) robustez

(D) obrigação



Questão 3

A conseqüência de o povo não saber ler, segundo o Texto I, está corretamente expressa em:

(A) jazer em profunda ignorância, por votar do mesmo modo que respira ou como vai

à festa da Penha

(B) ignorar o Sr. Meireles Queles, por fazer parte dos 30% de residentes no país que

jazem em profunda ignorância

(C) desconhecer a Constituição e as leis do país, por serem coisas absolutamente

ilegíveis e estimuladoras de uma revolução

(D) não poder exercer conscientemente a cidadania, por desconhecer as propostas

dos candidatos a cargos eletivos e a própria Constituição



4- Indique a classe gramatical das palavras destacadas no texto.

5- Faça o imperativo afirmativo e negativo dos verbos: replicar e dizer.

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